Pesquisas desbravam doenças infecciosas predominantes no Hemisfério Sul

Postado por: Nalvo Junior

Doenças infecciosas assombram as estatísticas brasileiras com números relevantes de casos de HIV, HTLV, Hepatites virais, Tuberculose, Leishmaniose, Micoses sistêmicas e mais recentemente Dengue, Chikungunya, Zika e Febre Amarela.

Grande parte dessas doenças está sendo investigada pelo Programa Institucional de Internacionalização em Saúde no Âmbito de Doenças Emergentes, Reemergentes e Negligenciadas, em projeto de pesquisa Capes – PrInt, evolvendo os Programas de Pós-graduação em Doenças Infecciosas e Parasitárias (PPGDIP) e em Saúde e Desenvolvimento na Região Centro-Oeste (PPGSD), ambos da Faculdade de Medicina (Famed) da UFMS.

“Isso é uma categoria de doenças muito importantes, que geralmente acometem o Hemisfério Sul. São doenças bem específicas da nossa região, com elevada carga para a nossa população”, explica o coordenador desse projeto de pesquisa PrInt, professor Julio Henrique Rosa Croda.

Brasil é uma liderança em diversos aspectos no que diz respeito a essas doenças, segundo o pesquisador. “Claro que podemos citar nos últimos anos a epidemia de Zika, em que o Brasil liderou toda a parte de conhecimento científico, de publicações, de entender o mecanismo, de associações com a microcefalia, e está liderando também desenvolvimento de vacinas, novos testes e diagnósticos”, aponta.

Todas essas doenças se enquadram nessa categoria de emergentes, reemergentes e negligenciadas e fazem parte de um escopo de enfermidades importantes para o mundo e que são pouco pesquisadas porque não existe um interesse internacional e um aporte de recursos importantes, segundo o coordenador.

“O Brasil, como oitava economia do mundo, com um dos maiores sistemas únicos de saúde, tem não só a relevância por conta do impacto dessas doenças na nossa população, mas também a obrigação de pesquisar e evoluir o conhecimento específico nessa área tão importante”, afirma Croda.

Também participam desse projeto PrInt na UFMS os professores James Venturini, Marilene Rodrigues Chang, Anamaria Mello Miranda Paniago, Iandara Schettert Silva, Ana Rita Coimbra Motta de Castro. Os pesquisadores estrangeiros são Katrien Lagrou (Katholieke Universiteit Leuven), Adam Underwood (Walsh University), Catherine Blish (Stanford University), Jason Randolph Andrews (Stanford University), Marcelo de Carvalho (Université De Lorraine), Antonio Gigliotti Rothfuchs (Karolinska Institutet) e Saleem Kamili (Centers For Disease Control and Prevention – CDC).

Parcerias

O PrInt irá ajudar a estreitar as relações, publicação e desenvolvimento de projetos conjuntos e no final irá impactar nos Programas de Pós-Graduação, segundo o coordenador do projeto. “Com o PrInt esperamos expandir a internacionalização, que está associada a esse financiamento e que de alguma forma impacta globalmente nos Programas e na próxima avaliação da Capes. Hoje os programas são nota cinco e buscamos passar a seis, tornando-nos uma liderança na região Centro-Oeste em nível nacional”.

Para o professor Jason Andrews, da Universidade de Stanford, a colaboração com a UFMS tem sido altamente produtiva e já produziu uma série de benefícios.

“Em primeiro lugar, realizamos vários estudos em conjunto que resultaram em 14 publicações em revistas internacionais e abordaram questões urgentes de saúde pública relacionadas à tuberculose, que têm implicações locais e internacionais para a política. Em segundo lugar, fornecemos várias oportunidades de treinamento para os alunos. Já recebemos dois estudantes do Mestrado e estamos no processo de trazer um pós-doutorado para Stanford. Além disso, dois estudantes e dois pós-docs de Stanford passaram um tempo trabalhando em MS. Nossos alunos foram os principais autores de publicações e tiveram teses bem-sucedidas. Também recebemos professores da UFMS em Stanford para facilitar colaborações adicionais. Estamos animados para aumentar essa colaboração nos próximos anos”, afimou Jason Andrews.

Os pesquisadores brasileiros estão altamente motivados e comprometidos com a condução de ciência de alta qualidade, com claras implicações na saúde pública, na opinião do pesquisador americado.

“Eles identificaram problemas médicos importantes, particularmente relacionados à carga muito alta de tuberculose nas prisões e ao transbordamento para a população em geral, e são criativos e de mente aberta sobre como responder a este desafio. Existe uma excelente colaboração entre os pesquisadores e outras partes interessadas, incluindo várias agências dentro do governo estadual e nacional. Isso permite a tradução de pesquisas em políticas de saúde”, completa Andrews.

Missões

Uma primeira missão, com todos os pesquisadores brasileiros, esteve presente na primeira semana de fevereiro deste ano no CDC, em Atlanta e na Stanford University, na Califórnia.

“Esses são os principais centros que temos colaboração nos Estados Unidos, além da Universidade de Walsh, em Washington. Essas visitas aconteceram justamente para conversar com todos os pesquisadores, identificar quais as interações que seriam possíveis no intuito de enviar alunos que estão na proposta”, diz o coordenador.

Dois pós-graduandos, um do PPGDIP e outro do PPGSD já foram selecionados para o Doutorado sanduíche este ano, com duração de dez meses, com ida para CDC e Walsh. No total serão ofertadas cinco bolsas.

Os professores estrangeiros irão fazer visitas pontuais na UFMS para cursos de curta duração (15 horas/aula) nos programas de Pós-graduação. Os pesquisadores brasileiros irão realizar novas visitas às universidades estrangeiras, em ações individuais, com bolsas programadas de seis a 12 meses.

“Até 2021, todos os professores terão de sair, para voltar e entregar projetos e artigos. Temos como proposta a captação de recursos no exterior. Objetivo é que todos os professores estabeleçam essas conexões, com colaborações duradouras”, explica o professor.

Em andamento

A área de doenças infecciosas possui longa tradição na UFMS, abrangendo diversos projetos executados em colaboração com Fundação Oswaldo Cruz e Universidade de São Paulo.

“Em relação a projetos internacionais, dentro dessa proposta, já temos quatro projetos financiados em colaboração com a Universidade de Stanford e o Centro de Controle de Doenças nos EUA (CDC, Atlanta). O aporte desses recursos facilitará um maior intercâmbio entre as instituições, suporte institucional através de missões e viagens, além de um acordo institucional formal com a referida instituição.

A Universidade de Stanford está entre as 10 melhores universidades do mundo, destaca o professor Croda, e atualmente é a universidade que recebe maior aporte de financiamento nos Estados Unidos.

“Acreditamos que com esse projeto e recebendo esse aporte financeiro no início do quadriênio, os programas que possuem áreas e linhas relacionadas a doenças infecciosas poderão se internacionalizar e dessa forma contribuir para buscar destaque na referida área, contribuindo para consolidação da UFMS como instituição de excelência no Mato Grosso do Sul e na região Centro-Oeste”, aposta.

Com financiamento expressivo de US$ 2 milhões, o projeto “Estratégias para controle da tuberculose nas prisões”, iniciado em outubro de 2017, será desenvolvido em um período de cinco anos.

O projeto conta com um container onde são feitas as triagens dos presos com raio-x e um teste rápido molecular dentro de duas prisões de Campo Grande – o Presídio de Segurança Máxima e o Instituto Penal, e o presídio estadual de Dourados.

“O planejamento é fazer a triagem desses presos, pelo menos uma vez ao ano. Para todos serão ofertados os dois exames. Desde outubro de 2017, foram identificados mais de 500 casos de tuberculose dentro desses estabelecimentos”.

Médico e enfermeiro contratados atendem todos os pacientes com oferta de tratamento completo durante seis meses. Eles são acompanhados do atendimento à finalização do tratamento, sem qualquer ônus ao serviço público.

Também há um projeto em tuberculose que avalia biomarcadores. Objetivo é trabalhar no futuro com teste de sangue rápido, porque atualmente é preciso o escarro para que seja feito o diagnóstico.

“Muitos pacientes não apresentam tosse ou não conseguem produzir o escarro, como mulheres e crianças que mostram dificuldade, e há ainda algumas formas de tuberculose que não são pulmonares, por isso não temos como fazer um diagnóstico, sendo necessário fazer uma biopsia. Esse teste de sangue funcionaria no mesmo aparelho do escarro, testando assinaturas moleculares no sangue”, explica o coordenador.

Outro estudo é um ensaio clinico em tuberculose, que propõe a revacinação dos pacientes. “A BCG, tomada no nascimento, só protege as formas graves até 5 anos. Como na prisão há muitos casos de tuberculose, queremos dar um reforço dessa vacina quando o preso entra no sistema prisional para ver se irá prevenir a infecção por essa doença e adoecimento”.

Em 2020, o professor James Venturini irá a Stanford participar do projeto específico de imunologia das arboviroses, que são doenças causadas pelos chamados arbovírus, que incluem o vírus da Dengue, Zika, Chikungunya e Febre Amarela. O projeto desenvolvido naquela universidade com a professora Catherine Blish, tenta entender a resposta imunológica para essas doenças, principalmente Zika e Chikungunya.

“Precisamos identificar nesse componente de arboviroses os biomarcadores associados a prognósticos, entender melhor a resposta imune, para entender um pouco como podemos identificar o paciente precocemente e tratar antes que evolua para sintomas mais graves, principalmente relacionados a Chikungunya, ainda pouco conhecida”, completa Croda. Esses projetos são desenvolvidos por equipe de 25 a 35 pessoas.

Texto: Paula Pimenta

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