Projeto do INQUI pesquisa nanomateriais e suas aplicações em diferentes vertentes
Única Universidade de Mato Grosso do Sul a ter aprovadas propostas para o Programa Institucional de Internacionalização (PrInt) da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a UFMS encabeça cinco projetos de pesquisa.
O PrInt tem como proposições implementar e consolidar planos estratégicos para internacionalizar as instituições contempladas, de forma a aprimorar a qualidade da produção acadêmica vinculada à pós-graduação, em especial com a mobilidade de docentes e doutorandos.
Um dos projetos de pesquisa aprovados é o do Programa de Pós-Graduação em Química que propõe “Síntese e caracterização de novos materiais baseados em nanopartículas de metais aplicados ao transporte de medicamentos, estudo da mobilidade intra-agregada de sais biliares e produção de hidrogênio”.
Coordenado pelo professor Gilberto Maia, participam ainda do projeto os professores do Inqui Amilcar Machulek Junior, Gleison A. Casagrande e Marco Antonio Utrera Martines. Do exterior, foram convidados os professores Biprajit Sarkar, do Institute of Chemistry and Biochemistry, Free University Berlin (Alemanha); Marc Verelst, da Paul Sabatier University (Toulouse III, França); Cornelia Bohne, do Department of Chemistry, University of Victoria (Canadá); Manash R. Das, Materials Sciences and Technology Division – CSIR-North East Institute of Science and Technology, Jorhat (India) e Vladimir P. Fedin, Nikolaev Institute of Inorganic Chemistry, Novosibirsk (Rússia).
Auxílio para missões de trabalho no exterior, recursos para manutenção de projetos, bolsas no exterior (Doutorado sanduíche, professor visitante júnior e sênior e capacitação em cursos de curta duração) e bolsas no Brasil (jovem talento, professor visitante e pós-doutorado) serão abarcados pelo PrInt. Válido até início de dezembro de 2020, o projeto pode ser prorrogado por mais dois anos pela Capes.
“Um dos pontos importantes desse projeto será a vinda de pesquisadores estrangeiros para que possamos realizar trabalhos em conjunto. E aqui teremos visitas de curta duração, de 15 dias, quando esses professores ministrarão palestras, além de tópicos especiais de 15 horas cada, voltados aos alunos da Pós-graduação, com curso em inglês nas diferentes linhas de pesquisa que serão abordadas no projeto”, explica o professor Gilberto Maia.
Entre palestras e cursos, os professores pesquisadores estarão alinhavando os trabalhos que podem ser desenvolvidos. “Com os nossos alunos, iremos trabalhar com algumas medidas já experimentais a partir do material que será trazido pelos professores. Com a nossa ida, vamos continuar esses trabalhos e a ideia é que os doutorandos continuem nessas temáticas enquanto estiverem naqueles países, complementando o que for possível e necessário”, diz o coordenador.
A ideia é que se obtenha resultados o mais rápido possível e que as publicações sejam feitas com elevado fator de impacto.
Os professores brasileiros farão missões de 20 dias, com oito mobilidades previstas. “Iremos tratar dos trabalhos que realizaremos em conjunto com esses pesquisadores nas diferentes universidades, inclusive ver as condições de laboratório, desenvolver pesquisa lá, discutirmos as pesquisas que estarão em andamento e principalmente escrevermos artigos científicos”, afirma o coordenador.
Adicionalmente, será realizada a mobilidade de pós-graduandos de Química – com 12 bolsas de seis meses, em Doutorado sanduíche, sendo cinco em 2020, três em 2021 e quatro em 2022. Dentro do projeto, o professor Amilcar Machulek Junior sairá em agosto deste ano para pós-doutorado com a professora Cornelia Bohne, no Canadá.
Visitantes
A previsão é de que entre junho e julho deste ano, o professor Marc Verelst, da França, seja o primeiro a visitar o Inqui. Há 15 anos trabalhando com universidades brasileiras, ele considera que a pesquisa acadêmica brasileira e francesa estão em situações totalmente diferentes, em relação as dificuldades.
“Após várias décadas de intenso esforço na educação, o Brasil se encontra com um número muito grande de alunos que agora devem ser supervisionados em nível avançado (mestrado e doutorado). Mas o Brasil ainda carece de “cientista sênior” capaz de treinar efetivamente esse influxo massivo de estudantes. Para a França, é exatamente o oposto, a população de professores está envelhecendo com um número de alunos das ciências exatas (matemática, física, química, biologia), diminuindo a cada ano”, afirma Marc.
Consequentemente, para o professor Marc, essa colaboração universitária é muito lucrativa para os dois países. “Para o Brasil, ajuda a fortalecer sua capacidade de coaching em alto nível (PhD), enquanto a França tem acesso a jovens motivados por pesquisas que estão faltando em casa”.
Marc elogia ainda os estudantes brasileiros, que a seu ver são “muito bons, muito motivados e muito bem treinados”, assim como o bom relacionamento com os colegas brasileiros. “Nossas maneiras de trabalhar são muito próximas, combinando uma certa improvisação compensada por um grande entusiasmo e supervisionada por uma administração às vezes dolorosa. Para resumir, o que eu gosto na pesquisa brasileira é a qualidade das pessoas (habilidades e qualidade humana), mesmo que as condições de trabalho, especialmente o equipamento, às vezes não sejam as melhores. Mas isso não é grande coisa porque na França temos o equipamento, mas não pessoal suficiente para usá-lo de forma eficaz”, aponta.
Além de promover a mobilidade de professores e alunos, bem como as publicações com elevado fator de impacto, se os resultados forem promissores, segundo o coordenador, será possível ainda pedir Propriedade Intelectual das descobertas envolvendo as instituições participantes.
Já compondo proposta do PrInt, está sendo firmado um memorando de intenções com a Instituição da Índia (CSIR-North East Institute of Science and Technology, para ações de cooperação entre as duas universidades.
Com cerca de R$ 1 milhão destinado ao projeto, será possível promover a ida e vinda dos nove professores pesquisadores, dos 12 doutorandos, incluindo passagens, auxilio instalação, seguro saúde e bolsas, além de custeio para a compra de materiais, como reagentes.
“A nossa expectativa é de melhorarmos as nossas produções, porque teríamos essas parcerias objetivamente ocorrendo, com fator de impacto bom. Isso irá melhorar a classificação Capes, já que estamos pleiteando cinco. Para os alunos é extremamente importante porque eles podem se movimentar para essas universidades, terão cursos aqui, mesmo que sejam, cursos curtos de 15 horas, todos ministrados em inglês”, completa o coordenador.
Projetos
Todos os projetos estão interconectados e os professores estrangeiros foram escolhidos por afinidade, trabalho e linha de pesquisa. “Como temos vários docentes, conseguimos atacar várias ramificações porque a ideia é trabalhar com nanomateriais e a aplicação desses nanomateriais, aumentando a chance de produzirmos resultados nas mais diferentes vertentes”, expõe Gilberto.
“Estamos fazendo as pesquisas, que efetivamente já realizamos, e vamos amarrar com as que estamos propondo aos pesquisadores estrangeiros. A temática que trabalhamos é mais ou menos a que eles trabalham. Esses pesquisadores normalmente desenvolvem complexos ou substâncias e a ideia é que consigam trazer algumas dessas substâncias, que pensam ser promissoras, para que façamos testes, experimentos aqui”, explica o professor Gilberto.
Uma primeira temática visa à preparação e caracterização de novos materiais baseados em carbono e metais não nobres, compostos de coordenação luminescentes baseados em metais de transição, que possam apresentar potencial aplicabilidade na área de materiais eletroluminescentes, dispositivos tecnológicos como LEDs, sensores, novos catalisadores eletroquímicos, baterias, etc. Essa linha será encabeçada pelos professores Gleison A. Casagrande e Biprajit Sarkar (Alemanha).
Já o professor Amilcar Junior e a professora Cornelia Bohne (Canadá) trabalham com complexos para materiais biológicos, como tratamento de água, de efluentes, utilizando mecanismos como fotodegradação. O projeto envolve a síntese de nanopartículas de ouro e prata em sistemas aquosos complexos que são frequentemente encontrados para aplicações em sistemas biológicos.
Devido ao alto coeficiente de atenuação de raios X e pelo maior tempo de circulação no organismo, outra proposta é trabalhar com nanopartículas com complexos de gadolínio que podem atuar como contrastes multifuncionais em técnicas de diagnóstico por imagem, como alternativa aos agentes de contraste para Tomografia Computadorizada (CT) e Imagem de Ressonância Magnética (MRI). Isso diminuí a dose administrada ao paciente e a probabilidade de aparição de efeitos adversos. Esses estudos estão a cargo do professor Marco Antonio Utrera Martines, com o professor Marc Verelst (França).
“Além disso, serão sintetizadas várias nanoestruturas (nanocompósitos) metálico nitrogenadas (ou contendo enxofre). Os metais seriam cobalto, ferro, cobre e molibdênio, recobertos ou não com uma fina camada de Platina, que seria um metal nobre, mas às vezes isso é importante para melhorarmos a catálise, suportadas em material de carbono (nanofitas de óxido de grafeno ou nanofitas de grafeno), aplicando esses nanocompositos e complexos como eletrocatalisadores para a reação e desprendimento de Hidrogênio e de Oxigênio”, explica o professor Gilberto, que coordena essa pesquisa, tendo a participação dos professores Manash R. Das (Índia) e Vladimir P. Fedin (Rússia).
“Esses dois pesquisadores trabalham com sistemas desse tipo, que nós chamaríamos de substâncias metalo-orgânicas. Normalmente, utilizamos metais e orgânicos baratos e conseguimos, com isso, uma boa efetividade para a catálise (aumento da velocidade de uma reação, a partir da adição de uma substância). Aí teríamos uma catálise boa com material barato”, completa o professor Gilberto.
Paula Pimenta (Secom/UFMS)